quarta-feira, 27 de agosto de 2008



O Bêbado.

Estou bêbado e pouco me lembro do curto começo, do estilhaço dos copos ou da solidão, apenas segui o fluxo do grande metrô de São Paulo e acabei por capengar pobres passos no que fiz de destino. No meio de tantas pessoas, em um assento coloquei todo o peso dos ombros, ao lado de dois jovens acomodei meus lamentos, servi como pratos com bolo o vazio daquele momento.
Briguei com a família, e desejo da boemia a compreensão e o consolo de mais um dia. Com este hálito alcoólico, na gentileza com a qual desabafava, supria também a necessidade de companhia... No encontro deixei sinceridade ao invés de malicias, e na despedida larguei uma bala em mãos estranhas... A hortelã que julguei envenenada, assim como meu peito que por dentro é encharcado de cachaça, o fruto de uma lembrança contemporânea.

Mr. K. Silence.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008



Viver a Noite e Perder os Dias.

De tão notívago mal me lembro das cores do dia,
Do pouco que fiz... Hoje respiro toda a água do mar...
Nunca pisei na areia, nunca estive no litoral,
Nadei só por anos a fio...
Detive-me apenas ao sal das lágrimas que caíram.

Deste sabor me envenenei...
Para nunca limitar a dose pude então acordar...
Quando finalmente levantei das sombras, não houve despertar...
Percebi um reflexo tão pequeno que quase não se nota...
A cidade cresceu e hoje é grande só de se olhar...
Pequena de se viver como portos sem barcos ou gotas d’água.

Pagou um preço tão alto que agora é cinza,
O tempo ficou tão curto que o futuro nem nasce, já cai verde...
A estrada é absurda e bêbada, afogada em buracos onde não há destino...
Feixes de luz vagam, mas de tantos, poucos justificam a física.
No meio de tanto concreto, vida quase não se sustenta...
Só é raiar do Sol aquele que penetra a pedra
Se segura firme para que não se levem leves, os outros...
Para nunca deixar que fechem as portas para os novos.

Hades Pierrot